Artigo: Fratura Diafisária do Úmero com Haste Intramedular

Fratura Diafisária do Úmero com Haste Intramedular
Este artigo acompanha o vídeo da cirurgia narrada pelo Dr. Sávio Chami e descreve detalhadamente a técnica cirúrgica para o tratamento de fraturas diafisárias do úmero utilizando uma haste intramedular. Abordaremos desde o planejamento inicial e o posicionamento do paciente até as etapas de redução, instrumentação e fechamento. O objetivo é proporcionar um guia técnico e didático para otimizar a compreensão do procedimento.
Prioridades da Técnica
A técnica prioriza:
- Redução adequada dos fragmentos
- Preservação dos tecidos moles
- Precisão na confecção do portal de entrada
Indicação e Objetivos
A haste intramedular pode ser indicada para fraturas diafisárias do úmero, e o método demonstrado foi planejado para:
- Obter precisão na confecção do portal de entrada
- Reduzir o trauma cirúrgico
- Facilitar a realização do procedimento
Técnica Cirúrgica
1. Posicionamento e Planejamento Intraoperatório
Com o paciente posicionado em decúbito dorsal e a cabeceira elevada a aproximadamente 40 graus, inicia-se o procedimento com a marcação do eixo longo do úmero (canal medular), identificando a deformidade e o local exato da fratura com a caneta dermográfica.
2. Redução e Colocação do Fio Guia (Joystick)
Cria-se um portal de acesso alinhado com a diáfise, com especial atenção ao manguito rotador. A entrada deve ser realizada no sentido das fibras do manguito rotador, nunca transversalmente, para evitar dor residual pós procedimento devido ao comprometimento do manguito rotador. Após a confecção do portal, prepara-se para obter um ângulo de ataque ideal para entrada do fio guia.
Técnica do Joystick
Realiza-se um orifício na região póstero-lateral do ombro para a inserção de um fio de Kirschner de 3.0mm ou 2.0mm. Este fio servirá como um "joystick" para:
- Auxiliar na adução do fragmento superior
- Expor o ponto de entrada
- Corrigir a rotação
A manobra com o joystick permite a mobilização completa do fragmento proximal tracionado pelo deltoide, corrigindo a abdução e facilitando um ângulo de entrada preciso no topo da cabeça umeral, na transição entre a grande tuberosidade e a cabeça umeral (predominantemente na cabeça do úmero)
Ponto de Entrada Ideal
A introdução do fio guia deve ser direcionada predominantemente na cabeça umeral, evitando a transição tubérculo-cabeça para prevenir uma possível fratura da grande tuberosidade durante o alargamento do ponto de entrada.
A avaliação radiográfica do ponto de entrada é realizada com o próprio joystick, em incidências anteroposterior e lateral, uma vez que o fragmento proximal se encontra livre, permitindo visualização direta e precisa da entrada. Essa abordagem é mais eficaz do que a rotação do cotovelo para obtenção da incidência lateral, que pode gerar imagens imprecisas.
3. Confecção de Entrada para o Canal Medular e Inserção da Haste
O joystick é removido para prosseguir com a brocagem e a introdução da haste intramedular. Após a passagem do fio guia, a haste é medida.
⚠️ Atenção Importante: O canal medular no final é triangular, tornando a medição com o fio menos precisa. Recomenda-se um desconto para compensar o afunilamento do canal medular, evitando que a haste fique proeminente.
4. Bloqueio e Finalização
Bloqueio Proximal
Após a introdução da haste intramedular, procede-se à confecção dos bloqueios proximais, utilizando parafusos oblíquos direcionados ao calcar umeral.
Bloqueio Distal
O bloqueio distal é realizado à mão livre, sendo um procedimento de elevada dificuldade devido às características anatômicas do úmero distal, que apresenta uma face anterior triangular.
Dicas Técnicas Importantes:
- Utilizar uma broca com ponta bem afiada para evitar que escorregue no ápice triangular da cortical anterior do úmero
- Avisar a empresa fornecedora para levar uma broca nova e com ponta afiada
- A incisão para o bloqueio distal é de aproximadamente um centímetro
Finalização
Após a colocação do bloqueio distal e a retirada do introdutor e do guia, observa-se a fratura diafisária com traço espiral reduzida de forma satisfatória, com o implante não proeminente. O manguito rotador é suturado (a incisão foi realizada no sentido das fibras), o que previne problemas com a função do ombro. Prossegue-se com o fechamento subcutâneo e da pele.
Pós-operatório: Resultados e Considerações
No pós-operatório, o procedimento permite certa mobilidade, proporcionando:
- Redução estável
- Preservação dos tecidos moles
- Recuperação funcional mais rápida
Resumo Prático do Procedimento
Checklist Cirúrgico
- Marcação: Delimitar eixo longo do úmero com caneta dermográfica (guia para introdução do fio guia na visão antero-posterior)
- Acesso: Criar portal alinhado à diáfise, no sentido das fibras do manguito rotador
- Joystick (Fio de Kirschner): Utilizado para promover a adução, corrigir a rotação do fragmento proximal e auxiliar na conferência do portal de entrada na visão radiográfica lateral, possibilitando a obtenção de um ponto de entrada adequado para a introdução da haste
- Ponto de Entrada: Inserir mais para a cabeça umeral, evitando a transição cabeça-tuberosidade.
- Medição da Haste: Descontar o afunilamento do canal medular para evitar proeminência do implante.
- Bloqueios: Realizar bloqueios proximais (parafusos oblíquos ao calcar) e distais (atenção à broca afiada devido à anatomia triangular)
- Fechamento: Sutura do manguito e fechamento de pele
Conclusão
A técnica de haste intramedular para fraturas diafisárias do úmero, conforme demonstrada, oferece uma abordagem segura e precisa. O cuidado com a confecção do portal de entrada, o respeito aos tecidos moles e a atenção aos detalhes técnicos contribuem para a realização de um procedimento seguro e preciso.
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