Fraturas da diáfise da tíbia

Tratamento de Fraturas da Diáfise da Tíbia: Novidades e Tendências Atuais

‍ Introdução

O tratamento das fraturas da diáfise da tíbia é uma preocupação frequente para os ortopedistas devido à sua alta incidência, principalmente em homens jovens, e às complicações comuns que podem surgir, como reoperações, não consolidação e consolidação viciosa. Neste artigo, vamos explorar os conceitos básicos do tratamento dessas fraturas e destacar as novidades e tendências atuais para garantir que os pacientes sejam tratados com base nas evidências mais recentes.

Classificação da Lesão

A classificação mais utilizada para fraturas da tíbia é a da OTA/AO, que leva em consideração a região do osso acometido, a energia e o mecanismo de trauma. As fraturas simples são classificadas como A, as fragmentadas com cunha como B e as multifragmentadas complexas como C. Essa classificação permite uma boa diferenciação e entendimento do padrão da fratura, com relação direta com o prognóstico e resultado clínico. No entanto, para uma avaliação mais completa, é interessante conhecer também a classificação de Ellis, que avalia o desvio dos fragmentos, as condições das partes moles e a energia da fratura.

Embora a classificação de Ellis seja complementar à classificação OTA/AO, é importante ressaltar que nenhum sistema de classificação isolado é totalmente satisfatório e completo. Portanto, é recomendável utilizar a classificação de Ellis para lesões associadas das partes moles, complementada pela classificação de Tscherne para fraturas fechadas e de Gustilo para fraturas abertas, enquanto a classificação OTA/AO é útil para o planejamento do tratamento.

Síndrome do Compartimento

A fratura da diáfise da tíbia é a principal causa da síndrome do compartimento. O diagnóstico precoce é essencial para evitar sequelas irreparáveis. A dor desproporcional à lesão e que se agrava com a tensão passiva da musculatura acometida é um dos sinais mais precoces e sensíveis dessa síndrome. No entanto, em casos de trauma craniano, lesão raquimedular ou déficit neurológico periférico, a dor pode estar ausente. Nesses casos, outros métodos diagnósticos, como a palpação de aumento da pressão e firmeza no compartimento, devem ser utilizados.

Estudos têm mostrado semelhança entre os vários métodos de medida da pressão intracompartimental. O acompanhamento de pacientes que apresentam diferença da medida da pressão do compartimento e pressão diastólica igual ou superior a 30mmHg, mas com função muscular normal, indica que o limite para a pressão de perfusão tecidual é de pelo menos 20mmHg entre a pressão do compartimento e a pressão diastólica. Além disso, a medida da pressão deve ser feita em todos os compartimentos, sendo maior até 5cm da fratura.

 

Avaliação da Consolidação

O processo de consolidação após a fixação com haste intramedular evolui em fases, sendo a primeira a fase de inflamação, seguida pela fase de reparação e, finalmente, a de remodelação. A fratura só pode ser considerada curada quando termina a fase de remodelação, que pode levar vários meses. Diversos métodos foram descritos para definir a consolidação da fratura, sendo um dos mais aceitos a avaliação do número de corticais com calo ósseo em duas projeções radiográficas ortogonais. Esse método tem como base um estudo em animais que mostra uma forte correlação entre o número de corticais com ponte óssea e a consolidação.

Outro método recomendado é o “RUST – Radiographic Union Scale for Tibial fractures”, que avalia as corticais em duas projeções radiográficas ortogonais, atribuindo pontos para cada cortical. Essa escala permite uma melhor correlação intra e interobservador. Vale ressaltar que, embora esses métodos sejam úteis, a avaliação da consolidação deve levar em consideração outros fatores, como a presença de sintomas clínicos e a estabilidade biomecânica da fratura.

Tratamento com Osteossíntese Intramedular

O tratamento das fraturas expostas da diáfise da tíbia tem avançado com o uso de técnicas mais modernas, como a osteossíntese intramedular após estabilização provisória com fixador externo não transfixante. Essa abordagem sequencial tem se mostrado eficaz na obtenção de altas taxas de consolidação e baixas taxas de complicações, como infecção profunda e não consolidação.

Um estudo prospectivo avaliou 39 fraturas expostas da diáfise da tíbia tratadas com essa técnica. Foi observada uma taxa de consolidação de 97,4%, com tempo médio de 21,2 semanas. A presença de complicações foi o único fator estatisticamente significativo relacionado ao tempo de consolidação. Pacientes sem complicações apresentaram consolidação mais rápida em relação aos pacientes com complicações.

Conclusão

O tratamento das fraturas da diáfise da tíbia é um desafio para os ortopedistas, pois envolve a consideração de diversos aspectos, como a classificação da lesão, a avaliação da síndrome do compartimento e a análise da consolidação. As técnicas modernas, como a osteossíntese intramedular após estabilização provisória com fixador externo não transfixante, têm demonstrado resultados promissores, com altas taxas de consolidação e baixas complicações.

É essencial que os ortopedistas estejam atualizados sobre as novidades e tendências no tratamento dessas fraturas, para garantir que os pacientes sejam tratados com base nas evidências mais recentes da literatura. A abordagem sequencial com o uso de osteossíntese intramedular tem se mostrado uma opção eficaz, proporcionando resultados satisfatórios e contribuindo para a recuperação dos pacientes.